“Do livro: “Cedenpa: Uma breve história dos trinta””
Foi no 79 virando para 80 – milênio passado.
Um tempo estranho.

Pessoas que viviam no ’ deitado eternamente em berço esplêndido’, e as que zelavam pela ´Terra,Família e Tradição´, continuavam conchavadas com os fardados, que naquele tempo eram apelidados pela juventude estudantil de ‘gorilas’ – coitados dos gorilas ! . Mas havia muita gente inconformada e, com apoios graduais iam formando ou reorganizando Entidades aqui , ali e acolá, para, conseguir que os fardados e seus prepostos saíssem do poder executivo (ditadura desde 1964) , que tanta crueldade estavam distribuindo em nosso país, apoiados, pela classe dominante/governo dos USA (e abusa) .

Todo mundo que gostava de brigar por liberdade começava e se assanhar cada vez mais e nós aqui , também.

Alguns de nós freqüentou diversas reuniões ligadas a construção da volta à ´normalidade´ ( que era um pouco mais democrática que a dos militares) . O processo de criação da Sociedade Paraense de Defesa de Direitos Humanos (SPDDH), foi um exemplo. As primeiras grandes reuniões ocorreram na igreja de Santa Terezinha, no Jurunas . Naquela época, muitos de nós ia, mas com um bocado de medo que ‘baixasse a repressão’ , que era a expressão que se usava quando ´os fardados´ invadiam reuniões de subversivos, segundo eles – havia pessoas infiltradas e , portanto, um bom nível paranóia corria nessas reuniões.

Foi nesse tempo que nossos ancestrais deram um jeitinho de fazer umas pretas e uns pretos se encontrarem , formar um grupo para discutir e lutar contra o preconceito racial. Sim, naquela época não se devia falar em ´racismo´ porque era considerada uma expressão ´muito forte´.
Um fato determinante nesse comecinho, foi um aviso dado por um paraense que morava em Brasília, de que ia ser realizado um Encontro de Negros , em Alagoas , e que ele poderia arranjar uma passagem para o Pará ser representado.

Os contatos deram certo e lá se foi nosso representante participar das discussões sobre a construção do Memorial para Zumbi, na Serra da Barriga, , idealizada por lideranças negras do sudeste . Isso foi em agosto de 80.

Quando nosso representante voltou, continuamos a nos reunir no Centro Comunitário Caripunas (esquina da Dr. Moraes com a Caripunas) . Esse é considerado o começo mesmo do Cedenpa.

Então, sob o signo de Leão, trazendo nas entranhas as forças de Xangô , Orixá da Justiça, foi que começamos a construir o que passou a ser conhecido como ‘CEDENPA – Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará.

Assim, em 10 de agosto de 1980 ocorreu a fundação, sendo que somente em 16 de agosto de 81, ocorreu a reunião que discutiu, aprovou a Carta de Princípios , Estatuto e foi eleita a primeira coordenação, mas como a ata só foi registrada em 27 de abril de 1982 , data legal da fundação.

Essa reunião ocorreu na casa da família de uma simpatizante do movimento lá no Apeú-Castanhal . Naquele momento o grupo original já estava maiorzinho e a primeira coordenação passou a se reunir em residências de militantes.
Ocorreu nessa ocasião o reconhecimento de um grupos re-estruturador com a entrada de novos militantes.

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